Antes de tudo, vamos entender do que se trata o tal de low-code. Por definição são soluções de desenvolvimento de software que dependem de pouco ou nenhum código. Ou seja, sem muitas linhas de programação é possível desenvolver e implementar aplicativos para atender alguma necessidade específica.
De acordo com pesquisa da Research and Markets, é estimado que o low-code movimente algo em torno de US$ 190 milhões até 2030.
Desde os primórdios da operação de e-commerce utilizamos esse tipo de ferramenta. No início foi para resolver questões pontuais e com o passar do tempo para agilizar e automatizar alguns processos mais robustos.
Atualmente utilizamos duas soluções: Google App Script e Retool.
Google App Script
O Google App Script é uma solução low-code que faz parte da assinatura do Google Workspace. Mas também pode ser utilizada(de maneira um pouco mais limitada) a partir de uma conta gratuita.
Em resumo, é um ambiente de desenvolvimento Javascript criado para interagir com as aplicações do Google através das mais diversas APIs.
No nosso caso, tudo é feito em cima de uma Google Sheet — a planilha do Google. Para quem é das antigas, imagine o App Script como o VBA do Excel, porém infinitamente superior e executado na nuvem.
Mas vamos ao que interessa, de que maneira especificamente utilizamos aqui na empresa:
Google App Script no dia a dia de um E-commerce
Lá por 2017 eu ainda não havia enxergado todo o potencial da ferramenta. Havia utilizado para agilizar algumas tarefas específicas e pontuais e acabei deixando de lado. Somente depois de conhecer o Gabriel Bollico da Shopb e ver que ele também fazia o uso do App Script, porém de maneira mais estratégica, fui perceber o enorme potencial da solução.
A partir daí, desenvolvemos diversas “planilhas automatizadas” para muitas situações. Vejam alguns exemplos:
Planilha de Precificação
Para quem está no regime tributário normal, entende que o processo de formação de preços não é tão simples quanto parece. No nosso caso utilizamos o Tiny ERP para fazer a gestão de produtos e o mesmo não conta com um módulo de precificação que seja viável de ser utilizado. Ou seja, que faça o cálculo completo de créditos e débitos de todos impostos, e que leve em conta a DIFAL, variando conforme a situação tributária de cada produto.
Através de uma planilha automatizada, a cada nova nota fiscal de compra recebida, importamos do Tiny e realizamos a precificação de maneira rápida e fácil, atualizando tudo via API.
Notificação de Novos Pedidos
A notificação de novos pedidos tornou-se indispensável no dia a dia da operação. Pois de maneira muito fácil e intuitiva conseguimos monitor as vendas e encontrar possíveis erros de precificação.
Trata-se de uma solução simples, onde a cada novo pedido realizado por um cliente, imediatamente recebemos uma mensagem em um canal do Google Chat, que é a ferramenta de comunicação interna que utilizamos no momento.
Em alguns momentos conseguimos evitar ou pelo menos amenizar alguns desastres. Pois quem lida com vendas online sabe que erros em preço e estoque são passíveis de acontecer e podem causar um estrago caso não sejam corrigidos em tempo.
Retool
Eu descobri o Retool recentemente e fiquei impressionado com o universo de possibilidades que a ferramenta proporciona. Para utilizar os aplicativos desenvolvidos em modo produção, é necessário pagar, porém eu considero o valor da assinatura relativamente barato, hoje o plano Team está em torno de US$ 10,00/mês.
Mas vamos focar nas funcionalidades. O Retool permite conectar-se de maneira absurdamente simples e em poucos cliques a várias fontes de dados externos: Big Query, APIs Rest, Google Sheets, Amazon S3, entre muitas outras opções.
E o principal é que a solução permite extrair os dados de maneira muito simples. Em APIs que utilizam autenticação OAuth 2.0, como a do Mercado Livre por exemplo, todo o processo é feito de maneira totalmente automática e fácil. Além disso, é possível executar consultas SQL em qualquer conjunto de dados, seja ele qual for, até mesmo JSON.
Utilização do Retool no E-commerce
Pelo fato de ter conhecido a ferramenta recentemente, por enquanto temos apenas uma aplicação implementada, mas que tornou-se incrivelmente útil para nossos processos.
Monitor de Vendas
Eu apelidei a ferramenta de Monitor de Vendas, pois essa é exatamente a função dela. Em meio ao caos tributário e a vasta complexidade de lidar com múltiplos canais de venda e suas respectivas regras comerciais, sempre foi muito complicado apurar o resultado líquido de cada pedido recebido.
Então desenvolvemos o monitor, justamente para fazer (quase)todos os cálculos de maneira automática. Basta inserir o número da nota fiscal e o valor de repasse para mostrar o detalhamento de impostos e custos da transação de maneira 100% fiel.
Com isso, todos os dias a equipe obtém uma amostragem dos pedidos do dia e utilizam a ferramenta para montar um relatório de acompanhamento. Através dele conseguimos identificar várias distorções de preços, comissionamento e taxas de frete que precisam ser ajustadas para evitar prejuízos recorrentes.
Cuidados e Recomendações
Nem tudo é perfeito. Apesar de soluções low-code serem muito versáteis e de baixo custo é bom entender que pode haver algumas desvantagens.
A primeira delas é que para desenvolver ferramentas e aplicativos leva tempo, seja do próprio empreendedor em empresas menores ou de alguém da equipe designado para isso. E é bom ter clareza se o esforço empregado realmente valerá a pena em termos de retornos para a operação.
Minha recomendação é a seguinte: Caso você não tenha a mínima ideia de como essas soluções funcionam, não tenha conhecimentos básicos de desenvolvimento de software, ou não tenha um programador na equipe, bem possivelmente não é vantagem adotar o low-code.
Agora, se você já é familiar com programação ou já está em um patamar maior, para comportar um time focado nisso, talvez seja no mínimo interessante testar alguma das opções acima.